Parte 5B. Papéis de Liderança na Igreja
– Por Trevor Larsen –
“Onde você viu os Apóstolos, Profetas, Evangelistas, Pastores, Mestres de Ef 4:11 engajados no processo de formação da igreja? Onde o ensino e a pregação têm um papel, enquanto você está formando igrejas do Novo Testamento?”
Nosso “Focus on Fruit” (Foco no Fruto) pode ser chamado de uma variante do modelo DMM (sigla em inglês para Movimento de Fazedores de Discípulos) que David Watson treinou em 2008. Colocamos uma ênfase maior na pesquisa local e no ajuste de contexto. Também damos maior ênfase à implantação do DNA do querer bem (por meio do desenvolvimento comunitário em países pobres) nos movimentos que nosso modelo desenvolve. Assim como o DMM padrão, nosso modelo não é apenas uma abordagem evangelística, mas ajuda os discípulos a amadurecerem em Cristo e serem frutíferos. Mas podemos colocar uma ênfase maior no fruto da formação de discípulos como desenvolvimento de uma igreja, como vemos nos primeiros 200 anos na Bíblia. O resultado pretendido do modelo “Focus on Fruit” é uma “Igreja sem Muros”: um sistema orgânico em expansão de ekklēsia, como vemos no período em que o Novo Testamento foi escrito.
Sou de um contexto que acredita que os dons de Apóstolo e de Profeta terminaram desde que o cânon do Novo Testamento foi fechado. A preocupação é com aqueles que reivindicam a mesma autoridade dos Apóstolos e afirmam que seus escritos têm autoridade como o Novo Testamento. É claro que concordamos que o cânon bíblico está encerrado.
Dom como o de Apóstolo
O apóstolo Paulo, contudo, era mais do que um escritor. Sua ambição era pregar a Cristo onde não houvesse igreja. Quando preparo os líderes de modo amplo, como professor de seminário e juntamente com convites de várias denominações, continuo encontrando pessoas que parecem muito parecidas com o Apóstolo Paulo nesse ponto. Eles continuam tentando iniciar novas igrejas em segmentos não alcançados da população. Descobri que certos tipos de pastores estão felizes em pastorear um rebanho de 70 crentes (o tamanho médio das igrejas em nosso país). Mas alguns outros líderes cristãos continuam formando mais e mais dessas igrejas, e acabam supervisionando oito ou 10 igrejas interligadas.
Continuei me deparando com esse fenômeno e fiquei curioso sobre esse tipo de líder cristão onde sirvo, que não encontro com tanta frequência nos EUA. Quando essas pessoas semelhantes a apóstolos refletem a respeito da Grande Comissão, elas veem como seu papel continuar fazendo mais e mais discípulos, e isso resulta em mais e mais igrejas. Esses dois tipos de líderes são diferentes: um é mais pastoral e quer pastorear um rebanho de tamanho limitado para que possa cuidar dele. O outro é mais apostólico e considera como iniciar novas igrejas em segmentos não alcançados.
Ao longo do tempo, identifiquei 16 dessas pessoas semelhantes a apóstolos, que não queriam pastorear igrejas, mas iniciar igrejas entre muçulmanos que vivem em PNAs. Para ilustrar o espírito incomum deles, um desses homens tinha um filho que estava morrendo em um hospital. Depois de 15 anos de luta com cada vez mais ataques epiléticos e danos cerebrais resultantes, ele me disse um dia: “Era muito estressante no quarto do hospital do meu filho, até que finalmente tive que ir para outro andar do hospital para desfrutar da evangelização dos muçulmanos. Isso foi um alívio!”
Pensei: “É um tipo de pessoa diferente de muitos de nós: ele alivia o estresse evangelizando muçulmanos!” Isso vai além de seus respectivos ministérios. Esses homens encontram um hobby e a paixão de Paulo pelo evangelismo (Rm 1:14; 15:20; 2 Co 10:12-16): levar o evangelho a todas as áreas onde o nome de Cristo ainda não foi conhecido.
Em The Signs of an Apostle (“Os Sinais de um Apóstolo”, não disponível em português), C. K. Barret escreveu sobre os 12 Apóstolos e Paulo. E há um segundo nível de líderes que assumiu e levou o evangelho para não alcançados, como Barnabé e o restante daquela equipe apostólica. Outros como Andrônico e Júnias (Rm 16:7) e Epafrodito (Fp 2,25) foram mencionados como apóstolos. Outros apóstolos (com um “a” minúsculo) também foram mencionados, designando aqueles enviados em uma missão das igrejas – como os irmãos cujos nomes não foram citados, mencionados em 2 Co 8:23. Certamente a redação do cânon bíblico foi concluída. Mas o espírito de apóstolo, que era tão proeminente quando a igreja se expandia rapidamente no primeiro século, ainda hoje está presente em certos lugares. Essas pessoas querem levar o evangelho a segmentos populacionais onde o nome de Cristo não é conhecido. As pessoas que eu conheço que têm esse mesmo espírito de apóstolo se tornaram líderes no progresso do evangelho.
Ao ajudá-los a maximizar seus frutos ministeriais em Povos Não Alcançados, comecei a perceber que tenho esse mesmo espírito. Durante o seminário, eu estava recrutando outros para se juntarem a mim para alcançar cambojanos, vietnamitas e laosianos. Nunca pensei nisso como semelhança de apóstolo. Nunca me deu a entender que era isso que eu estava fazendo. Mas foi assim que o Senhor me fez. No meu aniversário, ontem, alguém me perguntou o que eu queria fazer para me divertir. Eu disse: “quero contar o número de PNAs que alcançamos neste último ano”. Porque essa é a coisa que quero fazer quando ninguém espera que eu faça algo por eles. É a coisa mais divertida que posso pensar! Isso é diferente em relação a outras pessoas. Pessoas semelhantes a apóstolo têm um impulso para levar o evangelho para os campos que têm uma colheita em potencial, mas que ainda não foram abertos. Apenas um pequeno número entre aqueles que servem de forma transcultural tem esse impulso. Vários expatriados desse tipo têm se ligado a mim e estão caminhando ao lado de agentes apostólicos nacionais para ajudar que os frutos avancem.
Eu procuro agentes apostólicos; procuro os crentes locais que têm esse dom. E melhorei no que se refere a reconhecê-los e ajudá-los. Organizo minha vida em torno dessa questão: “Como posso ajudar os agentes apostólicos a maximizarem seus frutos?” Se encontro pessoas orientadas para compaixão, ou pessoas orientadas para administração, também temos espaço para elas, ao lado de líderes apostólicos. Porque agentes apostólicos dão muitos frutos e todo tipo de dificuldade tem que ser superada com o recrutamento de cada vez mais pessoas. Acho que é por isso que os apóstolos estão listados entre os cinco dons que edificam em Efésios 4:11. Eles capacitam outros crentes para fazer o trabalho de ministério, como descrito no versículo seguinte. Todos esses cinco têm uma função de delegação de poder ou capacitação. Os agentes apostólicos levantam uma tempestade e muitos outros são necessários para apoiar o movimento de avanço da igreja em expansão.
Evangelistas, pastores e mestres
Nosso movimento parece ter todos estes cinco dons de capacitação. Qual é a diferença entre um apóstolo e um evangelista? Acho que nossos evangelistas são mais felizes um a um ou em pequenos grupos, interagindo com as pessoas face a face. Sua habilidade é mais restrita do que a do apóstolo, no compartilhamento do evangelho. O trabalho deles é bastante local; onde quer que estejam, está bem. Com ajuda, eles descobrem como capacitar outras pessoas para evangelizar. Eles treinam outros crentes em como fazer evangelismo. Mas pessoas como os apóstolos parecem ter uma coleção de diferentes capacidades, que podem usar quando necessário para continuar impulsionando o evangelho e a igreja para lugares onde ele ainda precisa ser estabelecido.
Sobre pastores: entre nossos 16 mais frutíferos catalisadores de movimento, alguns mostram uma forte orientação para a dedicação pastoral, mas, como pastores apóstolos, eles pastoreiam seus principais líderes de movimento (que estão amplamente espalhados) em vez de um conjunto de crentes. Quando tivemos mártires, outros catalisadores se sentiram arrasados, mas os pastores seguiram em frente no cuidado direto. São eles que consolam os outros líderes e os ajudam a descobrir como se levantar e encontrar alento. O mesmo acontece com as mortes. Perdemos mais de 3.000 pessoas para a COVID-19 em nossas redes de pequenos grupos, e isso inclui muitos líderes próximos a eles, de modo que nossos catalisadores têm realmente sofrido. Pastores desse tipo se levantam e ajudam os outros. Certamente em um movimento precisamos de alguém com o dom de pastor para capacitar todos os pastores leigos necessários para cada conjunto de 50 pessoas. Temos líderes sobre células, sobre grupos, sobre pequenas regiões e sobre grandes regiões. Esses constituem nossas equipes de líderes estruturais.
Temos também líderes especiais. Chamamos um tipo de líderes especiais de “conselheiros”. Essa é, de fato, a função pastoral. Eles recebem treinamento em aconselhamento, ajudam pessoas com dependência de narcóticos, ajudam pessoas em luto, e são chamados por líderes estruturais para ajudar em conflitos familiares. Ajudam as pessoas quando uma gravidez acontece antes do casamento e em muitos tipos diferentes de problemas. Nós não obrigamos os pastores a servirem como líderes estruturais. Os líderes estruturais também podem servir em papéis pastorais, ou podem chamar pastores não designados da rede para ajudá-los, para assumir certas questões. Se eles têm um papel de liderança estrutural mais amplo e também possuem o dom de pastor, precisam fazer a transição de pastorear para capacitar os pastores leigos.
O mesmo acontece com os evangelistas. Essa é outra categoria especial de líderes. Os evangelistas muitas vezes descobrem maneiras de levar o grupo a fazer nascer mais grupos, talvez em um grupo de pessoas próximas ou em uma região próxima. Os líderes estruturais coletam doações financeiras para o grupo e as utilizam para ajudar um evangelista voluntário (que talvez seja um vendedor) a ter um pouco mais de dinheiro, para que possa viajar para um pouco mais longe para fazer brotar ou consolidar alguns frutos evangelísticos. Os facilitadores do Desenvolvimento Comunitário também são líderes especiais. São administradores que podem organizar outros, em projetos que beneficiam a comunidade. Fazemos muita ação do tipo ame-seu-vizinho. Alimentamos famintos, criamos empregos e temos milhares de crianças em grupos de tutoria depois da escola. Decidimos fazer com que o amor de uns aos outros seja uma parte prioritária do nosso movimento; isso requer muito trabalho administrativo e de facilitador. Os líderes estruturais da igreja não têm tempo para organizar também esses projetos. Podem chamar essas pessoas, que servem como os sete que assumiram o ministério para viúvas em Atos 6.
O quarto líder especial é o professor da Bíblia – as pessoas com dom para o ensino. Esses também podem ser líderes estruturais, ou podem se concentrar apenas no ensino e capacitação de professores. Temos seminários especiais para capacitar professores. Nos últimos 15 anos, com a ajuda de outros, escrevi 38 séries de estudos bíblicos, cada uma delas orientando discussões bíblicas em grupo por cerca de 25 semanas. Os professores ajudam a melhorar nossos esboços. Eles ajudam a identificar os tópicos que precisam ser abordados. Esses estudos são bíblicos; alguns são atuais, focados em temas específicos. Por exemplo, nossa teologia bíblica do jejum é um tema especial de grande importância em um país que jejua um mês por ano. Esse é um estudo muito popular, por causa do mês de jejum. Temos outra série tópica popular sobre famílias bíblicas saudáveis. As séries tópicas são frequentemente usadas para iniciar grupos.
Temos também uma série com fundamentos. Em nosso sistema da Palavra, temos uma forte ênfase no estudo bíblico indutivo em grupos, e os professores fazem parte do sistema da Palavra. Os professores podem introduzir a série em grupo a um grupo de líderes, em um seminário de meio dia para ajudar os líderes com a visão geral e algumas passagens chave. Podem ajudar os líderes durante um estudo, respondendo perguntas que surgirem, como sobre cristologia para muçulmanos enquanto estudam o livro de Marcos. Alguns deles ajudam a escrever ou selecionar materiais, ou apresentam o ensino sobre um tema durante uma de nossas reuniões periódicas de 50 ou 200 pessoas. Alguns deles ajudam a elaborar ensinamentos em pequenos vídeos.
Surpreendentemente, a maneira como a palavra “pregação” é usada nas igrejas convencionais hoje em dia é diferente da maneira como era usada na Bíblia. As palavras gregas usadas na Bíblia que traduzimos como “pregação” descrevem principalmente a proclamação evangelística do evangelho aos não crentes, não a pregação aos crentes nas igrejas. Em uma busca de palavras usando o BibleWorks, das 27 passagens que têm palavras traduzidas como pregar no Novo Testamento, 24 se referem claramente à pregação evangelística, e não está claro nos outros três usos se o que se tinha em vista era um público crente ou não crente. A pregação evangelística aberta deve ser feita com muito cuidado e sabedoria (para reduzir o risco) nos 99% dos povos islâmicos que servimos. A maior parte de nossa proclamação do evangelho é feita em grupos menores de pessoas que se conhecem, e os muçulmanos que vêm à fé geralmente dialogam sobre isso. Na Bíblia, a palavra “ensinamento” está mais centrada nos crentes, como mencionado acima.
Continuamos trabalhando para identificar especialmente esses dons espirituais e fornecemos treinamento especial adicional para cada uma dessas quatro categorias, mais o dom de ofertar. Os discípulos em crescimento estão habilitados a usar esses dons dentro do movimento. Uma de nossas 10 Habilidades Essenciais é nosso diagnóstico anual de saúde. Tentamos fazer com que todos os grupos e todos os clusters se autoavaliem usando um conjunto de perguntas.
Círculos de coaching para capacitar líderes
Se alguém perguntar: “Quais das igrejas do Novo Testamento eram saudáveis?”, pode-se provavelmente dizer que todas elas eram saudáveis, mas também havia alguma insalubridade nelas. Talvez Corinto se destacaria por sua insalubridade, mas todas as igrejas tinham problemas. Um movimento é um processo confuso, e nós tivemos todos os problemas sobre os quais você leu na Bíblia. Em qualquer semana, se eu perguntasse a todos os líderes, haveria algumas pessoas em sérios conflitos familiares. Haveria algumas pessoas lutando contra o vício sexual na internet. Todos aqueles problemas que você poderia pensar, que você encontra nas igrejas em qualquer lugar, são encontrados na Igreja Sem Muros que Cristo está construindo através de nossos líderes.
Estamos trabalhando para aprimorar processos, para aumentar a probabilidade de os líderes ajudarem os crentes a conduzirem suas questões de crescimento de uma forma bíblica. Nos grupos de líderes temos um processo que chamamos de círculos de coaching, onde quatro pares de líderes decidem quais deles serão treinados pelos outros em uma semana específica. O líder selecionado para o coaching compartilha um desafio com o qual está lidando, depois os outros três líderes fazem perguntas para ajudá-lo. Juntos, eles apresentam ideias para ajudar o líder que está conduzindo o coaching a encontrar soluções para seu desafio de liderança. Os Círculos de Coaching treinam os líderes na solução de problemas do grupo, e edificam quatro líderes em uma equipe de líderes.