Categories
Sobre Movimentos

Aprendendo Práticas Frutíferas por meio da Experimentação

Aprendendo Práticas Frutíferas por meio da Experimentação

– Por Trevor Larsen –

Uma maneira importante pela qual temos aprendido nossos princípios ministeriais é por meio da experimentação de campo, observando o que Deus está fazendo através de nossas intervenções, enquanto refletimos sobre as Escrituras. Quando encontramos um pouco de fruto (indivíduos que vieram a Cristo, grupos de crentes ou outros indicadores de crescimento espiritual) tentamos examinar. Por que isso aconteceu? O que nos ajudou a progredir? Como podemos aumentar essas práticas que foram mais frutíferas? Como podemos diminuir aquelas práticas que não se mostraram frutíferas?

As igrejas primitivas aprenderam o que Deus queria que elas fizessem ao observar o que ele estava fazendo, refletindo sobre como ele havia usado os seres humanos para dar frutos, depois refletindo sobre as Escrituras para confirmar novas percepções. Podemos ver em Atos dois exemplos de primeiro observar o que Deus estava fazendo através das pessoas, depois refletir sobre a Escritura para confirmar a nova percepção. Pedro foi surpreendido, mas compelido a prosseguir, quando Deus usou meios sobrenaturais para levá-lo à casa de Cornélio, um centurião da corporação italiana. Ele estava surpreso porque aquele avanço do evangelho entre os gentios não se enquadrava nas tradições judaicas. “Vocês sabem muito bem que é contra a nossa lei um judeu associar-se a um gentio ou mesmo visitá-lo. Mas Deus me mostrou que eu não deveria chamar impuro ou imundo a homem nenhum. Por isso, quando fui procurado, vim sem qualquer objeção. Posso perguntar por que vocês me mandaram buscar?” (Atos 10:28-29). Sentindo claramente a direção de Deus, tanto através da intervenção direta de Deus como por meio da resposta dos não crentes a Deus, Pedro compartilhou o evangelho. Atos registra a admiração dos judeus diante do que Deus estava fazendo. Enquanto Pedro ainda estava falando estas palavras, o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a mensagem. Os judeus convertidos que vieram com Pedro ficaram admirados de que o dom do Espírito Santo fosse derramado até sobre os gentios (Atos 10:44-45).

Eles se convenceram da orientação inesperada de Deus, observando o que Deus estava fazendo. O que eles viram Deus fazendo em não crentes, ajudou-os a entender o que eles deveriam fazer: pregar o evangelho aos gentios, batizá-los e aceitá-los em sua comunidade de crentes. Quando chamado pelos líderes em Jerusalém para explicar esse desenvolvimento surpreendente, Pedro acrescentou que aquilo que observou deu a ele uma nova visão das palavras de João Batista sobre o batismo de Jesus: “Quando comecei a falar, o Espírito Santo desceu sobre eles como sobre nós no princípio. Então me lembrei do que o Senhor tinha dito: ‘João batizou com água, mas vocês serão batizados com o Espírito Santo’. Se, pois, Deus lhes deu o mesmo dom que nos dera quando cremos no Senhor Jesus Cristo, quem era eu para pensar em opor-me a Deus?” Ouvindo isso, não apresentaram mais objeções e louvaram a Deus, dizendo: “Então, Deus concedeu arrependimento para a vida até mesmo aos gentios!” (Atos 11:15-18). Para Pedro, e para os líderes de Jerusalém, a combinação de observação da obra de Deus nos não crentes mais a reflexão sobre as Escrituras para ganhar novos conhecimentos, convenceu-os do que deveriam fazer.

Atos 15 reflete este mesmo padrão de primeiro observar (ou ouvir o que foi observado por outros) o que Deus estava fazendo entre os crentes, seguido por reflexão sobre as Escrituras, confirmando a direção de Deus. Isso convenceu todos os primeiros líderes da igreja, que se haviam reunido, em relação ao que deveriam fazer. 

Em resumo, criamos condições experimentais e fazemos uma avaliação trimestral para promover rigorosamente práticas frutíferas e extinguir práticas que não foram frutíferas. É claro que não extinguimos práticas bíblicas, quer elas contribuam ou não diretamente para a produtividade, como a ajuda aos pobres. Fazemos isso também, mesmo que isso possa ou não criar mais grupos de crentes, por causa dos mandamentos de Deus para ajudar os pobres. Essa é uma discussão diferente; estou falando apenas daquelas práticas que podemos modificar sem violar ou ignorar princípios bíblicos.

Nosso DNA de experimentação tem sido fascinante para as pessoas que querem aprender conosco. Quando elas vêm, mal podem acreditar, porque os catalisadores do movimento local nos dizem, a cada trimestre: a) novas experiências que estão fazendo, b) até onde progrediram nos três meses em que estavam fazendo uma experiência, e c) o que irão modificar na medida em que avançarem nos três meses seguintes da experimentação. Nossa inovação avança com pequenos acréscimos a cada trimestre. Você pode imaginar as pessoas criativas que atraímos e como a criatividade delas se desenvolveu. É algo de que eu realmente apreciei: inovar e encontrar obreiros locais inovadores. 

Não é que todas as pessoas frutíferas que eu supervisiono sejam inovadoras. Mas trabalho especialmente com os 40% a 50% dos que são inovadores, porque são eles que estão descobrindo novos caminhos. A natureza do ministério de Povos Não Alcançados (PNA) é que não tem havido ganhos por décadas. Se continuarmos fazendo as coisas que outros cristãos estavam fazendo, podemos ter certeza de que ainda não teremos nenhum ganho nas próximas décadas. É por isso que a inovação é importante para alcançar os PNA em áreas onde não houve frutos significativos no passado.

Aqui está um exemplo de aprendizado experimental por meio de um estudo de caso comparativo. Eu deveria recrutar bons evangelizadores locais, depois os veria trabalhar e compararia suas histórias. Comparar diferentes práticas de diferentes pessoas e comparar seus frutos é parte do meu aprendizado e do deles. 

Nosso primeiro líder de equipe iniciou três grupos. Parecia que ele ia oferecer o modelo a ser seguido pelo resto dos evangelizadores. Mas ele nunca passou dos três grupos. Enquanto isso, os outros rapazes eram como uma tartaruga em uma corrida contra um coelho. Estavam muito atrasados, mas continuaram trabalhando e finalmente iniciaram um grupo. O líder já tinha três grupos, então aqueles que tinham começado mais lentamente desenvolveram dois grupos cada um, depois três grupos cada um. De repente, os plantadores que tinham começado mais lentamente relataram quatro e cinco grupos, porque alguns de seus grupos tinham iniciado outros. Mas o líder ainda estava liderando três grupos pessoalmente, depois reduziu para dois grupos. O que estava acontecendo?

Essa comparação de frutos de diferentes plantadores criou uma questão. “Todos eles foram graduados no mesmo Colégio Bíblico e tinham o mesmo treinamento e todos estavam trabalhando na mesma área onde 99,6% das pessoas eram da religião majoritária. O que estava acontecendo de diferente?” Aqueles que estavam chegando a mais grupos não estavam dispostos a compartilhar as coisas nas reuniões, por medo de constranger o líder, que estava ficando mais frustrado. Não estavam expressando uma análise direta. Quando investiguei mais a fundo, descobri que o líder temia que se falasse com grupos e não com indivíduos, aumentaria o risco para si e para sua família. Portanto, ele estava conversando apenas com indivíduos. Essa abordagem estava gerando uma certa medida de produtividade, mas não estava sendo reproduzida pela população local. Enquanto isso, os outros plantadores, que tinham começado mais lentamente, estavam conversando com grupos naturais de pessoas e raramente com indivíduos. 

Em nosso país, você quase nunca encontra alguém sozinho. É tudo muito aglomerado, todos estão sempre juntos. Mesmo que você vá a uma loja, ou esteja correndo, não importa aonde você vá, você vê pessoas em grupos. Estão com seu irmão, seu tio e seu amigo: talvez quatro, cinco ou seis pessoas. Não me refiro a grupos formais, mas a agrupamentos. Assim, aqueles evangelizadores que iniciaram mais lentamente começaram a falar com grupos de pessoas locais. Ajustaram o estilo de diálogo para se adequarem aos grupos. No início, compartilhar o evangelho em grupos aconteceu mais lentamente do que compartilhar com indivíduos. Mas quando as pessoas nos grupos começaram a falar sobre o evangelho umas com as outras, e chegaram à fé enquanto se apoiavam mutuamente, aqueles primeiros agrupamentos locais de crentes não eram estéreis. Eles se reproduziam, imitando o padrão. Indivíduos que foram conquistados isoladamente para o Senhor eram estéreis. Não podiam ter bebês; não podiam copiar o mesmo processo, porque em nosso país ninguém fala com um indivíduo sozinho. Se alguém falava com outra pessoa, uma por uma, parecia sinalizar que algo era ilegítimo em relação ao assunto que estava sendo discutido. Se algo tivesse que ser escondido, provavelmente era vergonhoso. “Por que você precisa falar com um indivíduo a sós?” Você tem algo a esconder. Mas quando você fala em grupos de pessoas que já se conhecem, é um sinal de que isso é algo bom para se falar com os outros.

As pessoas que chegam ao Senhor em agrupamentos naturais têm uma experiência como as pessoas de um grupo de Alcoólicos Anônimos: elas dão e recebem apoio enquanto compartilham o que estão aprendendo. São pessoas em grupos de Povos Não Alcançados que estão fazendo algo diferente do que todas as outras pessoas. Elas precisam umas das outras para conseguir apoio para buscar o Senhor juntas através da Bíblia. Elas se legitimam umas com as outras: “Está tudo bem em abrir a Bíblia e discuti-la”. Elas oferecem proteção umas para as outras para não serem atacadas por vizinhos e amigos. Elas podem ir juntas ao Senhor e isso é algo que podem replicar, porque a organização social e a dinâmica apoiam a interação contínua. É como um jogo de pingue-pongue, desfrutado por um grupo de amigos: a bola está sendo batida para frente e para trás enquanto eles riem uns com os outros. Dialogam para frente e para trás sobre as Escrituras e como aplicá-la, e a interação faz parte da diversão. São pessoas que amam diversão; gostam de fazer isso juntas. Então, agora elas estão aproveitando a dinâmica social já presente na cultura, e os grupos começam a se multiplicar.

Compartilhei a história anterior como um exemplo de como aprendemos um de nossos princípios essenciais. Temos 15 ou 20 práticas frutíferas. A prática frutífera que aprendemos com esse caso foi “Grupos, não Indivíduos”. Eles criaram motes a partir de cada uma das práticas frutíferas e esse é um deles: “Grupos, não Indivíduos”. Esta prática frutífera é um de nossos princípios orientadores. Nós a descobrimos por meio da experimentação, comparando o que estava funcionando com o que não estava funcionando também. 

Quando estávamos avançando há 10 anos e tínhamos 110 grupos, participei de uma conferência na qual me pediram para compartilhar nosso estudo de caso. Eu estava no avião pensando: “Eles não vão acreditar quando eu disser que existem 110 grupos de pessoas da religião majoritária, que chegaram a Cristo e estão discutindo a Bíblia e aplicando-a. Vão pensar que estou mentindo”. Mas todos os outros estudos de caso apresentados eram da África e da Índia, e todos eles tiveram muito mais frutos do que esse!

Foi como uma boa sacudida para mim, perceber que o que vinha sendo desenvolvido em nosso país era apenas uma pequena gota no balde, em comparação com o que outros tinham. Foi um grande incentivo à minha fé refletir: “Não há limites para um sistema expansível. Isso pode continuar”. E durante aquela conferência recebi pela primeira vez um treinamento de Movimento de Plantação de Igrejas (MPI), feito por David Watson: o modelo Movimento de Fazedores de Discípulos (MFD).

Muitos participantes da conferência não gostaram do treinamento de MPI porque abalou a maneira como eles vinham fazendo as coisas em muitos anos de ministério. Levantaram objeções que não precisavam ser levantadas. Eu não parava de pensar: “Eu deveria me levantar e dizer a eles: ‘Por que você não sai da sala e me deixa ouvir este orador?’ Isso é o que temos aprendido em nosso país. Esses princípios são as mesmas coisas que Deus nos tem ensinado. Como ele descobriu isso em um país diferente?” Essa foi minha experiência naquela conferência. O que aprendemos, por meio de experiências no campo por muitos anos, outros também descobriram, em outros contextos, entre outros tipos de Povos Não Alcançados. Mas a maioria de nós não quer parar de fazer o que vem fazendo e tentar um novo modelo.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *